terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aprender dançando - pode ser melhor do que você imagina!

Antes de iniciar a minha dissertação acerca da pesquisa desta terça-feira, quero propor uma reflexão sobre a seguinte quantia: 15,5 milhões de pessoas.

O que esse número representa para vocês? Poderia ser apenas a população de Viçosa/MG multiplicada umas (pausa para o cálculo...) 221 vezes ou 174 Maracanãs lotados...


                                                                                         
Mas, para nós, brasileiros, esse número é uma vergonha - equivale a taxa de analfabetos do Brasil (censo 2000), cerca de 13% da população.

Para amenizar essa situação, diversos programas de afalbetização são oferecidos e desenvolvidos no país. Em Viçosa, existe o Nead - Núcleo de Educação de Adulto. E é exatamente nessa função de alfabetizar jovens e adultos, que a pesquisa da professora do curso de Dança da UFV, Evanize Kelli Siviero Romarco, se encaixa. Desenvolvida numa etapa inicial, no segundo semestre de 2007 e no primeiro semestre de 2008, a pesquisa propõe a utilização da dança e seus elementos como um elo, "uma ponte entre o vivenciar, o experimentar e adquirir conhecimento".

De acordo com estudiosos da Dança e Educação, o adulto analfabeto encontra-se numa situação discriminada de aprendizagem, uma vez que a insegurança, a timidez e  a baixa auto-estima não permitem a plena criação de conhecimento. Dessa forma, cabe ao educador estimular o auto conhecimento do aluno, desenvolver neste seus pontenciais levando sempre em consideração o seu mundo e vivências, pois, "assimila o conteúdo somente aquele que constrói e re-constrói seus significados, aplicando o que estudou em situações concretas."

É aqui, no momento do conhecimento, da socialização, da prática em si, que a dança desempenha papel crucial - ao estimular a exploração dos corpos e percorrer o espaço, ao atiçar a imaginação, os sentidos e deixar fluir as emoções - os movimentos da dança ultrapassam o limite físico e motivam e instruem os alunos.

Segundo Evanize, os alunos do Nead ofereceram inicialmente uma resistência à pesquisa, questionando o porquê da dança em suas grades de ensino, afirmando que "não estavam ali para dançar, e sim, para serem alfabetizados." Superado esse bloqueio inicial, foi necessário mostrar aos discentes que a dança que eles conheciam ( dança de salão, forró) não era a única maneira de "se  dançar." Foi assim, superando obstáculos que a pesquisa obteve resultados grandiosos -  uma maior facilidade de memorização, aumento da confiança ao questionar professores e expor suas opiniões, aumento da auto estima e também um avanço da socialização entre alunos. Acompanhe abaixo Evanize descrevendo uma das aulas ministrada por ela e suas estagiárias para os alunos do Nead:





Após um ano trabalhando a dança como um elemento auxiliador no processo de aprendizagem, iniciou-se a segunda etapa, agora não somente como pesquisa, mas também como extensão. (Para Evanize, essa distinção entre pesquisa e extensão não é e nem poderia ser muito nítida na área da Dança, uma vez que todo trabalho de extensão é uma pesquisa de campo.) Agora, a Dança é ensinada aos alunos como uma área de conhecimento, como uma linguagem artística e cultural.

Conheça um pouco mais sobre a Dança no processo de aprendizagem:

    * Dançando na escola - Isabel A. Marques (pdf)
    * O ensino da Dança: reflexões para a construção de uma pedagogia emancipatória (pdf)
    * Dança-Educação: o corpo e o movimento no espaço do conhecimento - Ida Mara Freire

3 comentários:

  1. muito interessante.. não sabia que havia um trabalho neste na UFV. Aliás, até hoje nunca ouvira falar que a dança poderia estar relacionada ao processo de alfabetização.

    ResponderExcluir
  2. Achei ótima a matéria! Um assunto que poucos conhecem. Valeu pelo ensinamento!!!

    ResponderExcluir
  3. Interessante. O trabalho do Nead rende outro post, mais geral, que tal?

    ResponderExcluir