segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Avante Mulheres!


Em um país como o Brasil, que de 1996 a 2006 o número de mulheres chefes de família aumentou 79%, e que mais de 45% da população economicamente ativa é feminina, questionar a importância fundamental das mulheres na sociedade e na economia do país é impossível. Mas se pensarmos bem, a maioria das conquistas femininas não é de longa data; o panorama realmente começou a mudar após a década de 1960, com o movimento de Contracultura. Antes de toda a revolução sexual e feminina que aconteceu neste período, as mulheres eram subjugadas e amplamente discriminadas na sociedade, estando sempre com papel secundário.

É sobre o gênero feminino e a posição da mulher no século XIX que a estudante de História, Kalina Fernandes Gonçalves, orientada pela professora Patrícia Souza de Faria, realiza sua pesquisa. O tema é tratado pelo olhar de Flora Tristán, escritora feminista e socialista utópica francesa, e é nesse olhar que a graduanda pretende esmiuçar a forma como eram tratadas as mulheres daquela época, além de apresentar as concepções políticas e sociais da autora.
Flora Tristán, que era filha de mãe francesa e pai peruano, teve um casamento mal sucedido que lhe rendeu um atentado por parte do ex-marido, ficando com duas balas alojadas no peito e dificuldades financeiras. Aos 25 anos, Flora já estava separada e sofria todo o preconceito contra mulheres que optavam por tomar essa decisão.

A autora se diferenciava das outras feministas da época por não fazer parte da classe média, e principalmente pela sua radicalidade em relação a certos assuntos, como o casamento, por exemplo. Considerada por alguns estudiosos uma “escritora operária”, Flora se destacava também por seu engajamento político. A feminista chegou a ter suas idéias defendidas por socialistas científicos de renome, como Karl Marx e Friedrich Engels. Flora escreveu três livros que tiveram maior destaque, pelos quais é possível analisar as lutas femininas no século XIX: Peregrinações de uma Paria, que conta sua viagem e permanência temporária pelo Peru; passeios em Londres, o qual relata sua viagem à capital da Inglaterra; e o seu último livro publicado em vida, o Union Obrera, sua obra mais política.

Este último livro é uma espécie de cartilha, nos moldes do Manifesto Comunista, de Karl Marx, e sintetiza as idéias feministas e socialistas da autora. Defensora dos direitos das mulheres, Flora Tristán queria unir as classes mais subalternas da sociedade do século XIX: as mulheres e o operariado. Nessa perspectiva, passou a participar do movimento operário e a lutar por melhores condições de trabalho.

Nesse contexto, analisar o discurso político e feminista de Flora Tristán permite a comparação dela às outras feministas da época, o que leva a descobrir a especificidade das análises da autora. “Muito a frente de seu tempo”, Flora discutia questões que só começaram a ser levantadas com mais força no século XX, e não obteve a mesma visibilidade e reconhecimento dado as feministas posteriores. Para Kalina, que pretende defender sua monografia sobre o feminismo de Flora Tristán, a história precisa resgatar agentes que não recebiam voz naquele contexto:






Além de apresentar essa importante escritora, a pesquisa pode trazer uma nova história das idéias socialistas, do movimento operário e do feminismo, a partir da construção das idéias de Flora. A análise da autora, o estudo de um caso específico com a intenção de atingir um conhecimento sobre o geral, gênero historiográfico denominado Micro-História, permite uma obtenção de informações acerca de como era constituída a sociedade e os comportamentos no século XIX.

E se as mulheres do século XXI estão ingressadas em uma universidade, por exemplo, deve-se essa conquista a várias mulheres como Flora Tristán, que lutavam para sair da posição inferiorizada que encontravam. E essa luta feminista influenciou diretamente na escolha do tema a ser pesquisado por Kalina:

“É fundamental você admirar o quanto foi importante, você valorizar essas mulheres por lutarem por direitos que hoje nós temos. Se não fossem os longos anos do movimento feminista, desde o século XIX até hoje, boa parte dos nossos direitos não teriam sido conquistados. O fato de ser mulher e pesquisar uma mulher que lutou tanto no século XIX é fundamental até na escolha do tema, é uma coisa de admiração.”

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