segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O sensacionalismo estampado na capa



Você consegue perceber a diferença entre a capa desses dois jornais?

Nos estudos de comunicação o primeiro deles, o jornal O Globo, é considerado um veículo de estilo referencial, voltado para um público de classe média a alta e mais "intelectualizado". O segundo, o jornal Meia Hora de Notícias, é classificado como uma mídia de estilo popularesco e o público alvo são as camadas populares da sociedade.

Essa diferença de estilos determina diferenças também na composição dos textos, na seleção de imagens e conteúdos.

Sabendo disso, percebe-se que a escolha das imagens e títulos na capa não são aleatórios.

O curso de Comunicação Social - Jornalismo da UFV realiza pesquisas que analisam a estratégia de interação simbólica adotada pelas mídias de caráter popularesco.

Os trabalhos se iniciaram em 2007, com a monografia de conclusão de Curso da aluna Priscila Almeida sobre o jornal carioca “Meia Hora de Notícias”, orientada pelo professor Ricardo Duarte.

No ano seguinte, o professor Ricardo, junto com os estudantes Camila Caetano e Murilo Alves e o professor Joaquim Lannes, desenvolveram a pesquisa A estratégia das imagens e dos títulos nas capas do tablóide Meia Hora de Notícias do Rio de Janeiro – o jogo dos valores instituídos.
O estudo avalia a forma de interação simbólica utilizada nas capas desse jornal na tentativa de criar afinidade e identidade com o público leitor.

Assim como na maioria dos jornais desse estilo, o Meia Hora baseia-se principalmente na tríade temática “sexo – futebol –violência”. Esse três temas estão sempre presentes na capa do jornal, variando o espaço e conseqüentemente o destaque dado a cada um deles no dia. O sexo é abordado por meio de uma exploração do corpo feminino: são utilizadas fotografias de mulheres nuas ou seminuas, podendo ser personalidades da TV ou personagens do contexto cotidiano das comunidades. O futebol é apresentado a partir da rivalidade dos times, usando frases irônicas e trocadilhos. Já a violência é tratada de forma irônica e bastante espetaculosa. A esse jogo de valores, o grupo chamou de uma peculiar narrativa da capa.

Característica peculiar do Meia Hora é o apelo a banalidade. Assuntos de pouca relevância ou"bizarros" ganham um espaço extraordinário. Fatos escandalosos que envolvam celebridades também são os preferidos do jornal. Mas os pesquisadores ressaltam que os sujeitos da comunicação não são apenas as celebridades. Personagens da periferia por vezes também ganham espaço na capa.

Os valores apresentados nas narrativas de capa do Meia Hora têm forte correlação com valores também inscritos na cotidiano das classes populares brasileiras. Assim, o discurso machista relacionado à mulher é percebido na super valorização do corpo feminino, com um apelo sexual. O futebol, paixão nacional, desperta rivalidades entre as torcidas adversárias, como o jornal faz questão de enfatizar. E a violência recebe um tom de indignação, numa tentativa de solidariedade e identificação com o sentimento que move as pessoas frente a essas notícias.

É interessante destacar um trecho do artigo que faz uma analogia interessante com o ser humano para explicar a estratégia de interação adotada pelo jornal:

“O jornal apresenta-se, no conjunto de seus valores simbólicos, como um ‘estranho’ na tentativa de se socializar, se relacionar melhor, formar grupos de amizades, sem sofrer grandes repulsas. Assim, cremos que o jornal, através da capa, utiliza estratégias de interações simbólicas na formação de seu público e de sua imagem. Igualmente, também temos o jornal procurando se identificar com elementos do jeito de ser dos sujeitos da cultura. Uma forma de querer pertencer a círculos de amizades. Se para a sobrevivência de sujeitos em uma cultura estranha é vital fazer e cultivar amizades, assim também o é para os veículos de comunicação.”

Assim se constrói a relação do jornal com seu público e com os seus objetos de comunicação. E a estratégia parece ter conseguido bons resultados. Exemplo disso é a manifestação dos leitores nos sites de relacionamento, como a comunidade do Orkut Amo as manchetes do Meia Hora e o twitter @meiahora.

E você que estilo de jornalismo prefere? Dê sua opinião comentando este post.


2 comentários:

  1. Já que as palavras muitas vezes não atraem o público, por que não utilizar imagens que despertem a curiosidade das pessoas?
    É notável que o público-alvo do jornal em questão está apenas interessado em "cenas" que produzam emoções fortes (acompanhadas por uma narrativa descritiva que salienta essa sensação).
    Procuremos jornais criteriosos e íntegros, e deixemos o sensacionalismo de lado.
    Muito boa a postagem!

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  2. Muito pertinente a discussão que vc levantou.
    Infelizmente em alguns casos o que impera é o "shownalismo".
    É por isso que iniciativas como este blog e todos os outros criados por nossa turma são uma forma de aprendizado para que façamos algo diferente e com um bom conteúdo.
    Isto rebate a ideia de quem acredita que o diploma, ou melhor o curso superior não são importantes.

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